Com muito esforço levantei-me da cama com aquela olheira matinal, após uma terrível noite de insônia. Terrível sensação. Era como se ele estivesse passado ao meu lado e ficara me observando com a cautela de uma mãe ao ver sua criança chorando. Ainda que lembrasse preocupação, como algo positivo, isso me irritara profundamente. Eu queria tirá-lo da minha cabeça e simplesmente dormir. Em paz.
Eu lutei contra aquela imaginação solitária do rosto dela a noite inteira me dizendo que estava pensando na maldita proposta de emprego que recebera dias atrás. Iria para Milão e me deixaria nesse fim de mundo e agora, tão mais vazio como sempre fora antes dele aparecer. O amor dele acabaria e ele nunca mais voltaria pra me ver. Disse-me que a vida estava lhe proporcionando uma maravilhosa aventura, que lhe garantiria todo o futuro, brilhante, é claro; e que ele não deveria deixar isso passar em vão.
Pois quer saber? Que fosse embora então... É, isso mesmo: – Tchau! Some e me deixa em paz! – Pelo menos meu sossego na hora de dormir eu merecia ter. E até isso ele queria levar consigo pra Milão? Que forma estúpida e equívoca eu havia me tornado na vida dele? Uma simples namorada que ele deixaria pra trás, por dinheiro? Ou por status?
Eu não sabia as respostas. Estava nervosa. Nervosa não, eu estava enlouquecendo! Levantei para ir ao banheiro e estava com a cara vermelha (de raiva) e os olhos inchados, de chorar. Sim! É claro que eu havia chorado! Eu tenho sentimentos mesmo que ele não mereça o valor de uma mísera lágrima que eu havia derramado. Ele me deixaria na solidão.
Amoleci. Meu choro tinha nome e rosto. Era o nome desse cara indo pra Milão. E eu o amava e estava enlouquecendo só com a ideia de não tê-lo mais ao meu lado. Eu estava em minha zona de conforto por pertencer a ele e a única solução para minha tristeza era ele. Sempre ele. Com sotaque, ou sem sotaque. Com lição de moral ou sem. Bastava um abraço, ou talvez só a sua presença.
E agora eu viveria só, novamente. Eu teria que aprender a conviver com a ideia. Seria forte e dura feito pedra. Talvez me tornasse um tanto fria. Mas com o tempo sobreviveria. Aliás, sobreviver seria inevitável, mas eu suportaria e aprenderia a lição como se aprende o 2+2 da matemática. Igual a 4. Igual a mim sem ele. Era prático.
Dormi. Levantei. Tomei café e escovei os dentes. Fui sair para o trabalho. Ao ir em direção à porta, um bilhete! Estremeci...
Abri e li: “ – Se tu me amas, ama-me baixinho. Não o grites por cima dos telhados, deixa em paz os passarinhos. Deixa em paz a mim! Se me queres enfim, tem de ser bem devagarinho, amada, que a vida é breve, e o amor mais breve ainda.” – Eu não suportaria viver sem você. Que Milão fique pra próxima, quando eu puder carregar você comigo.
Te amo; Ele.”
Texto Inspirado no poema “Bilhete” de Mário Quintana
Larissa Cardeal 3º FG - 2012
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